A diferença entre R$ 9,90 e R$ 10,00 é de apenas dez centavos. Mas no cérebro do consumidor, essa pequena mudança provoca uma sensação de economia muito maior do que o valor realmente sugere. Esse fenômeno é estudado há décadas e tem nome: “efeito do dígito esquerdo” (left-digit effect).
Essa técnica de precificação é usada em supermercados, lojas online, anúncios, assinaturas e praticamente qualquer lugar que queira causar impacto imediato no momento da decisão de compra.
O cérebro humano lê os números da esquerda para a direita. Quando vê o valor R$ 9,90, a primeira impressão é de que o preço está “na casa dos 9”. Mesmo que R$ 10,00 seja apenas dez centavos a mais, ele parece muito mais caro porque cruza o limite simbólico do número redondo.
Essa percepção foi confirmada em diversos estudos. Um dos mais citados é o de Thomas et al. (2005), publicado no Journal of Consumer Research, que mostrou que preços terminados em .99 aumentavam a percepção de desconto, mesmo quando não havia diferença significativa de valor.
Usar valores como R$ 49,90 em vez de R$ 50,00 pode resultar em aumento real de conversão. Em muitos testes A/B, empresas relataram aumento de até 10% nas vendas apenas ajustando os preços dessa forma.
Além do .90, outras terminações como .97 e .99 são bastante usadas no varejo para reforçar essa sensação de vantagem — ainda que o cliente racionalmente saiba que a diferença é mínima.
Usar sempre esse tipo de precificação pode ser contraproducente em alguns contextos. Produtos ou serviços premium podem transmitir mais confiança e valor quando o preço é arredondado.
Por exemplo, uma consultoria que cobra R$ 1.000 transmite mais autoridade do que outra que cobra R$ 997. O mesmo vale para itens de luxo: números inteiros e arredondados reforçam a ideia de estabilidade e prestígio.
Oferecer preços com centavos quebrados pode funcionar para capturar atenção ou passar sensação de promoção, mas precisa ser coerente com a proposta do seu negócio.
Clientes experientes percebem quando a técnica está sendo usada de forma forçada. Em vez de parecer uma vantagem, o número quebrado pode soar como truque ou manipulação — especialmente se for sempre usado da mesma forma.
Saber usar o desconto e a precificação psicológica com inteligência é o que separa a técnica da manipulação. O valor percebido nem sempre depende do número final, mas de como ele é apresentado, do contexto e da confiança que você transmite.